O que faria um dos maiores e mais influentes grupos do mundo ao se ver imerso num mundo dominado pela cena grunge? Poucos teriam a ousadia de gravar um álbum com enorme discrepância sonora e o menos "americano" possível. Mas nada era impossível para o U2.
"Zooropa", que celebra o seu 20º aniversário, certamente é o álbum mais "eurotrash" dos irlandeses. Assim como hoje, em 1993 era muito comum encontrar jovens em diversos clubs alternativos, em jeans muito apertados, com alguma bebida (ou substâncias ilícitas) e dançando como se não houvesse amanhã. Vamos pensar em "Zooropa" tal qual foi o "Kid A" (2000) para o Radiohead: um momento de "cegueira" em que você caminha junto com sua banda para o abismo. No caso do U2, "Pop" (1997), o trabalho seguinte, seria a beira do precipício. Mas havia a "salvação", e esta viria através de "All That You Can't Leave Behind" (2000). Mas vamos voltar a 1993…
Em seu DNA, "Zooropa" tem um aspecto eletrônico, dançante, uma verdadeira festa aural, mas que inexplicavelmente deixa de fora as guitarras tão marcantes de The Edge. O álbum veio no rastro do megasucesso "Achtung Baby" (1991), que vendeu assombrosas 18 milhões de cópias, arrematando prêmios e angariando novos clássicos ao repertório da banda como "Mysterious Ways" e "One". Se dois anos já havia sido uma reviravolta complicada no que tange à estética sonora, "Zooropa" tornaria esta tarefa algo ainda mais ininteligível. Aconteceu o esperado: raramente um grande sucesso é precedido de um sucesso ainda maior. Apesar da descrença de uns, Bono, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton seguiram lotando estádios pelo mundo com a imponente "Zoo TV Tour" – da qual tiraram a inspiração para compor as canções do então novo trabalho.
Acontece que alguns trabalhos precisam da ação do tempo para que suas belezas sejam percebidas. O público roqueiro americano não estava preparado para absorver tais elevações musicais. O U2 magistralmente teceu pop, dance, trip-hop e rock em destaques como "Numb", "Lemon" e "Daddy’s Gonna Pay for Your Crashed Car". Mas se há algo mais próximo de um hit nesse disco, diríamos que "Stay (Faraway, So Close!)" cumpriria (e bem) tal função. Mas ainda há uma grande curiosidade: a faixa final de "Zooropa" não é cantada por nenhum dos integrantes da banda, mas sim pelo lendário Johnny Cash (que mais tarde gravaria sua versão para "One" em um dos álbuns de covers que gravou pouco antes de morrer). Imaginem chegar a "The Wanderer" e ouvir Cash, com sua voz de barítono, em cima de uma base techno? Talvez tenha sido o momento mais "WTF?" da década de 1990.
"Zooropa" é isso: um registro perfeitamente fora do comum e igualmente a frente do seu tempo na história do rock.
14:44
Maldita Radio Rock

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